Nos últimos meses de 2019 tinha a expectativa de rever alguns amigos queridos. Ficamos longe geograficamente a maior parte do ano e agora estávamos todos na mesma cidade. Só que a realidade se apresentou de outra forma. Das pessoas que esperava rever, consegui me sentar para um café com apenas uma. Percebi que a distância entre nós não era apenas geográfica. Mesmo tendo teoricamente “combinado” de nos encontrar e houvesse interesse genuíno das partes em fazê-lo, era preciso colocar em prática esse desejo, organizar-se para isso, mobilizar-se para isso.
Hoje tomar um café com um amigo virou um desafio. Ou, na linguagem publicitária, virou “job”. O que era pra ser bom, simples e fácil virou mais um item no “follow-up”.
Parece que está cada vez mais difícil sair de uma espiral que nos suga, de uma roda-viva que enche nossos dias de inúmeras tarefas que visam atender as necessidades de nossos clientes, chefes, professores. E nós? Procrastinamos quando queremos fazer nossas próprias coisas. Como, por exemplo, tomar um café com um amigo.
Por que isso acontece? O que podemos fazer para reverter isso?
Em dezembro passado assisiti uma palestra da Chief Grouth Officer da Scopen Graziela Di Giorgi. O tema “O que é longo prazo num mundo em mudança frequente” foi apresentado no último Summit do GA&N (Grupo de Atendimento e Negócios). O conteúdo continha provocações e possíveis caminhos para nos organizarmos nesse mundo VUCA (sigla em inglês que em português significa volátil, incerto, complexo, ambíguo).
Aqui vou ressaltar alguns pontos abordados pela Graziela:
Expectativa x Realidade
Nossa percepção de tempo oscila entre passado e futuro. E o fato de raramentepercebermos o tempo presente contribui para que criemos mais e mais expectativas. E, com as expectativas, vêm de bandeja as frustrações. Se algo não sai exatamente como previmos não conseguimos enxergar o que podemos aproveitar no agora, no momento presente, ocupados em remoer o que não deu certo.
A solução seria buscar algum auto-controle que nos propicie ter um distanciamento dos problemas, ver as coisas em perspectiva. Por exemplo, não querer ter respostas automáticas para as perguntas que nos fazem, ouvir com atenção plena em vez de nos preocuparmos em fechar o assunto com alguma solução sem nem mesmo ter dado tempo de entender totalmente do que se trata.
Pendência x Tendência
Graziela nos mostrou que nos organizamos entre pendências e tendências. As pendências são as coisas que devemos fazer já, no curto prazo. E as tendências, o que pode ser feito depois, sabe-se lá quando (longo prazo). Nesse duelo entre curto e longo prazo, acabamos por privilegiar a realização das tarefas de curto prazo porque buscamos a gratificação imediata. É uma reação humana, chamada exatamente de “viés de curto prazo”, da qual nem sempre nos damos conta.
Portanto, aquilo que não tinha um prazo definido (“vamos tomar um café qualquer dia desses”), acaba tendendo ao tempo infinito. E as chances de que não aconteça são grandes.
Uma boa dica nesse caso é estabelecer um prazo, mesmo que você precise inventar esse deadline. Quando temos um horizonte de tempo, tendemos a nos mobilizar para fazer acontecer.
Metas Difíceis x Desafio Proporcional à Habilidade
Nossa lista de tarefas pode ser tão assustadora que desmotiva. Procrastinação à vista… Sim, tudo da sua lista pode ser importante, mas uma boa opção é priorizar as tarefas do “to do list” de acordo com a relevância e o grau de simplicidade do que precisa ser feito. Metas importantes, porém mais simples de ser atingidas são realizadas mais facilmente e essa sensação de produtividade gera a motivação para seguir em frente até chegarmos às metas mais difíceis e de longo prazo.
E aquele café, sai ou não sai em 2020?
Já chegamos à primeira quinzena do novo ano. Tudo continua parecendo veloz, eu sei.
Mas aquele encontro com alguns dos meus amigos já aconteceu. Não deu pra encontrá-los pessoalmente? Então deletei da minha cabeça a frustração com o que poderia ter sido, esqueci a cafeteria e me conectei online com eles pra bater papo. Foco no presente, e no possível.
E vamos em frente, quem sabe agora conseguindo realmente criar um prazo para fazer planos viáveis como esse de tomar um “café” com alguém que a gente gosta.
Feliz Ano Novo para você!