Aconteceu comigo no início da carreira. Trabalhava numa das maiores agências do Rio de Janeiro. Fazia parte de um grupo de contas que lidava com uma das contas mais importante da agência. Melhor dizendo: era a maior conta da agência.
Meu momento de carreira era promissor. Trabalhando numa agência de peso, tinha a oportunidade de estar ao lado de profissionais incríveis e muito respeitados no mercado. Não era apenas questão de construir uma network interessante, mas uma baita oportunidade de aprender com gente grande. Já era hora de dar um upgrade de função, passando de assistente a coordenadora. Se continuasse a mostrar serviço e a aprender como se fazia, e a fazer bem feito, não demoraria a ser promovida, pensei.
Foi aí que o cliente nos passou a missão de criar uma campanha de reposicionamento de um de seus produtos. Uma tarefa difícil, mas que fora meticulosamente planejada e criada. A diretora de contas do meu grupo trabalhou duro desde o início acompanhando e liderando todo o processo. Eu ficava na retaguarda, complementando seu trabalho, realizando as tarefas mais táticas, cuidando de alguma burocracia.
No dia anterior à apresentação tudo estava pronto e nossa reunião com o cliente seria logo no primeiro horário do dia seguinte. E aqui residiu a raiz do problema: como eu era assistente da conta, procurei me ater mais ao dia a dia dos trabalhos em andamento do que a essa importante apresentação. Confiando que a responsabilidade pela apresentação não estava em minhas mãos, deixei a coisa fluir e não me envolvi mais profundamente no assunto. Estava tudo ensaiado pela diretora da conta. O diretor da agência tomou conhecimento dos detalhes principais. E eu acreditava que as coisas iriam fluir como combinado: a diretora apresentava, o diretor da conta ficava ali para dar peso e importância, dando seus pitacos aqui e ali. E eu anotando tudo pra fazer a ata e o acompanhamento dos desdobramentos.
No dia da apresentação, cheguei à hora combinada. O diretor da agência também. Mas a diretora da conta estava atrasada, pois um engarrafamento provocado por um atropelamento impedia o trânsito de fluir. O cliente chegou e estava ansioso para saber o que havíamos preparado. Pedimos que esperasse uns quinze minutos na esperança de que a diretora da conta chegasse. Ele esperou por mais de meia hora e tivemos que iniciar sem ela. Ela nos ligou para informar que, do jeito que a situação estava, não conseguiria mesmo chegar a tempo.
O que fazer senão conduzir a apresentação sem ela? Muito óbvio quando se tem o domínio do assunto. Mas o diretor não sabia detalhes. E eu não tinha conhecimento do todo por não ter seguido de perto o trabalho mais importante daquele momento.
Obviamente, mesmo que tivesse conhecimento mais amplo do assunto, eu, como assistente da conta, não seria a pessoa mais indicada para conduzir a apresentação, porém isso não deveria impedir que eu apoiasse a diretoria da agência no que fosse necessário. Como não estava preparada nem em termos de conhecimento, muito menos emocionalmente, gelei e acabei não fazendo nada para ajudar. Emudeci, fiquei invisível. E em nada contribuí.
O resto da história você pode imaginar. O cliente, além de se aborrecer pelo atraso, provavelmente saiu da apresentação com a impressão de que o grupo que o atendia não estava comprometido com a conta. Acabou questionando várias coisas e foi difícil depois costurar todas as ideias e salvar a campanha.
Analisando essa história em perspectiva, claro que dou um desconto pela minha falta de senioridade. E, sim, minha diretora teve um papel muito importante ao discutir comigo esses pontos de maneira construtiva para que eu pudesse melhorar a partir dali. E assim vivermos felizes no trabalho por mais algum tempo, até mudarmos de agência. Poderia ter sido pior.
O importante é que aprendi logo cedo que, mesmo que eu não tivesse experiência, deveria estar mais envolvida. Mesmo sendo hierarquicamente menos “importante”, eu era parte de uma equipe.
Mesmo a atitude da pessoa menos “importante” pode influenciar na reputação da equipe como um todo. E, consequentemente, no sucesso da relação agência-cliente.