Depois de mais de três meses, começa-se a falar em reabertura dos escritórios das agências. Pelo menos em São Paulo essa hipótese ganhou maior concretude com a divulgação do “Protocolo De Prevenção ao Covid-19 em Agências de Publicidade”. É um material organizado pela Abap, o Cenp e o Sinapro-SP. O documento foi assinado pela Prefeitura de São Paulo em junho. Sim, é um material elaborado para aquele estado, especificamente. Mas acho que servirá de base para que outros mercados programem a sua reabertura.
Eu li várias vezes o material. Me deu uma aflição danada. São tantas recomendações e procedimentos necessários nesses novos tempos pré-vacina que me pergunto: vale mesmo a pena falarmos em reabertura de escritórios quando a pandemia não parece estar ainda sob controle?
Viabilidade das recomendações não é para a maioria
Fato: a maioria das agências brasileiras é pequena ou média. Os escritórios não costumam ser espaçosos. Muitas pessoas dividem às vezes um só banheiro, no máximo dois (H/M). As cozinhas são minúsculas. Quando há uma copa ou espaço para refeição, divide-se uma mesa com 4, 5 pessoas.
Para ser mais específica, vou listar e comentar sete das recomendações sugeridas no documento:
1. “Adaptar o layout das salas de trabalho, de modo a garantir a distância mínima de 1,5 metro entre os colaboradores”. Quantos escritórios são amplos o suficiente para estabelecer a distância de 1,5m entre as pessoas e ter gente suficiente trabalhando no local?
2. “Reforçar a limpeza e desinfecção de locais que são mais tocados”, “Higienizar pisos, banheiros e todos os ambientes, bem como utensílios, equipamentos e móveis, antes da abertura e após o fechamento da agência.” Quantas agências poderão arcar com a despesa para essa limpeza constante, implicando assim em contratação de pessoal ou aumento de horas trabalhadas de faxineiros?
3. “Recomenda-se manter o ambiente ventilado apenas com janelas abertas, sem ar-condicionado e ventilador.” Sim, há recomendação de uso de filtro HEPA, qdo for inevitável usar o ar. Mesmo assim…
4. “Permaneça de máscara o tempo todo”, “troque a cada 2 horas”. Vamos nos lembrar disso?
5. “Não é permitida a entrada de clientes ou prestadores de serviços na agência. Receba-os na área externa, sempre com máscara”. Recebo as pessoas na rua, num restaurante? No corredor do prédio? Melhor não, né?
6. “A temperatura corporal dos colaboradores tem de ser medida na entrada do escritório.” Quem mede? Como mede? Funcionário novo/especializado? Aparelho especial?
7. “A agência deve realizar testes aprovados pela Anvisa nos colaboradores a cada 30 dias.” Haja despesa para aplicar os testes.
Falta Confiança
Sendo muito sincera, é grande a minha falta de confiança. Se as pessoas se aglomeram em bares, praias, mercados, por que vão se lembrar de manter distância no escritório? Por que usariam máscara todo o tempo? Por que vão higienizar sua estação de trabalho, outra recomendação do material da Abap, já que tem “pessoal de limpeza pra isso”?
Difícil. Muito difícil.
Pensando junto: você, gestor, como se sente com a responsabilidade pela saúde de seus colaboradores e de seus familiares, caso alguém seja infectado após a abertura da agência? E você, colaborador, se sentiria seguro em dizer que não se sente confortável em voltar, mesmo que o discurso da liderança da agência seja aquele do “respeitamos o direito do colaborador que não quiser ir ao escritório”?
