Todos os anos são divulgados os índices de desempenho dos estudantes no Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem. Um dos focos preferidos do noticiário é o número de participantes que tiram zero na redação. Por ser publicitária e também professora, o tema da redação de 2014 – Publicidade Infantil em Questão no Brasil – me fez ler com mais interesse o noticiário sobre o assunto.
Numa das matérias que li (link) o Ministro da Educação Cid Gomes tenta justificar como um dos fatores do mau desempenho o fato de o tema não ter sido amplamente discutido (como foi o caso do tema de 2013, a Lei Seca).
Ocorre que, independentemente de o tema ter sido ou não discutido amplamente pela sociedade e pela mídia, isso por si só não impede que a redação do Enem seja mal realizada. A questão crucial é, primeiro de tudo, a falta de entendimento do que se está propondo para que seja desenvolvido o conteúdo da redação.
A prova não arremessa para os estudantes um tema. Ela apresenta, no enunciado da questão, textos e gráfico sobre o assunto que objetivam motivar e dar subsídios para que, aí sim, cada pessoa possa desenvolver um raciocínio com argumentações e propostas (veja a prova aqui). O que me parece, principalmente pela vivência em sala de aula, é que ler atentamente um enunciado tem sido tarefa difícil para muitos. Passa-se da primeira frase à última sem ler o meio, sem prestar atenção, sem nem tentar entender o que se está pedindo. Outra coisa, infelizmente, é que muitos lêem, mas não compreendem, pois não desenvolveram a capacidade de interpretar. Também não sabem defender um ponto de vista porque não desenvolveram o hábito saudável da crítica e do questionamento nessa enxurrada de verdades “facebuquianas”. Não sabem o que quer dizer um texto dissertativo-argumentativo.
Muita calma nessa hora. Os estudantes, sozinhos, não fazem verão. A escola precisa mudar também e desenvolver nos aprendentes diversas habilidades e competências. No final das contas, isso se aplica a nós, publicitários, que fomos aqueles estudantes que agora estão no mercado de trabalho. Quanta gente aí que não entende o que o anunciante diz sobre seu problema (prestar atenção, interpretação), que nem se dá ao trabalho de estudar o mercado (pra que ler e pesquisar?) e paga pra ver quando divulga peças de conteúdo questionável (o negócio é chamar atenção e ter likes no Fb antes do Conar pedir pra tirar do ar).
O caminho é longo nessa nossa “pátria educadora” que vem formando pessoas sem senso crítico e sem conhecimento sobre seu papel na sociedade.
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P.S. Para meus colegas de docência, recomendo o Guia Para Discutir Publlicidade Infantil em Sala de Aula (link), elaborado pelo Instituto Alana através do Projeto Criança e Consumo.